O projeto da nova sede da produtora Fabrika Filmes surge a partir de um desafio central: criar um prédio conciso e flexível, adaptado às necessidades de uma produtora de vídeos e suas empresas parceiras. Nesse contexto, uma análise cuidadosa da sede anterior da empresa foi crucial para o desenvolvimento de um programa de necessidades que comportasse a transferência da sede e sua futura expansão. Assim, não foram apenas consideradas as funções e distribuição dos núcleos, mas também a forma dinâmica de trabalhar e a forte interação social existente na produtora. O novo prédio procurou atender à mobilidade de uma empresa em constante transformação em que se destaca a intensa convivência nos espaços comuns, a partir de uma hierarquia de núcleos bem definidos.
O prédio é localizado no novo trecho 17 do SIA (Setor de Indústrias e Abastecimento de Brasília), o que impôs um desafio. Se por um lado costuma-se a encarar o contexto urbano como elemento de diálogo e motivação para as primeiras decisões arquitetônicas, o que dizer de um terreno em que o contexto urbano ainda não existe? A região foi criada a partir de um programa de incentivo do governo distrital, onde o urbanismo foi executado concomitantemente à construção da maioria dos prédios. Com isso, o contexto inicial do lote levou em consideração apenas os poucos elementos existentes: a orientação, os ventos dominantes e a presença distante da via Estrutural, uma das principais vias expressas da cidade.
O terreno é constituído de 2 lotes idênticos de 20 x 40m, dispostos lado a lado. Por solicitação do cliente, um dos lotes deveria ser usado para estacionamento e o outro para a edificação. Desse modo a empresa teria a possibilidade de uma futura expansão. Escolhido o lote a construir, partiu-se para o zoneamento dos principais volumes e funções da produtora, quais sejam:
Primeiramente, optou-se por posicionar o estúdio no fundo do lote, aproveitando ao máximo os recuos obrigatórios permitidos e deixando uma faixa lateral de 3,8m para a circulação de veículos de carga. Observou-se que as áreas adjacentes ao estúdio, juntamente com os núcleos de edição e dos funcionários deveriam estar próximas ao estúdio, o que representaria um entrave às áreas comuns do térreo. Com isso em vista, foi tomada a decisão de utilizar o subsolo, onde a legislação permite a ocupação máxima. Assim, o estúdio fica semienterrado, com seus acessos pelo pavimento inferior. Em torno do estúdio colocam-se suas áreas anexas e o núcleo dos funcionários. Na porção frontal do subsolo, fica o núcleo de edição, situação oportuna uma vez que essa área requer um maior controle da iluminação e ventilação naturais devido a questões técnicas – calibragem de cores e bloqueio de ruído.
Com a construção de cerca de 80% da área do subsolo, a preocupação com as necessidades de ventilação e iluminação natural teve que ser reforçada. Dessa forma, foram dispostas sempre que possível, saídas de ar quente e entradas de luz, como a que existe sob o banco do térreo, estrategicamente colocado para reforçar o convívio na área externa e ao mesmo tempo garantir um subsolo arejado e naturalmente iluminado. Mesmo nas áreas com restrições de iluminação, pareceu necessária a realização de um largo recorte no terreno que permitisse aos usuários do subsolo um contato direto com ambiente externo.
A partir do posicionamento do estúdio, decidiu-se por deslocar a circulação vertical de seu local mais óbvio, à frente do lote, para a área central, ao lado do estúdio. Essa opção divide os pavimentos superiores – onde ficam as áreas de escritórios – em duas partes, contribuindo para uma satisfatória estratificação da edificação, que passa a ter mais flexibilidade e melhor rentabilidade do espaço. Com isso se faz possível uma série de variações de layout nos pavimentos destinados ao aluguel e à parceria com empresas e autônomos de interesse mútuo. Além disso, a opção por um espaço central de distribuição integralmente vazado de baixo até em cima proporciona maior conexão visual entre as diversas áreas do prédio e possibilita uma quantidade maior de encontros, reforçando o caráter social da empresa.
O átrio resultante desse vão central constitui o principal espaço de exceção da Fabrika. O átrio é o núcleo, a origem de todo o trânsito de pessoas. Seu pé direito é completo, integra as passarelas suspensas com a circulação vertical, cria um vínculo visual permanente entre as funções sociais e restritas e intersecciona a modulação contínua da estrutura metálica. Ali se percebe a movimentação ao longo dos dois pavimentos de escritórios e o térreo, característica reforçada pela intensa presença do vidro, tanto nas fachadas leste e oeste como no teto e nos fechamentos do elevador, das escadas e das passarelas de conexão entre os dois lados do prédio.
Para reforçar o dinamismo desse espaço utilizou-se de um recurso plástico pouco usual. Sendo o piso do átrio um quadrado perfeito, formado por 16 placas cimentícias de 120 x 120cm e a cobertura formada por uma pele de vidro, espelhando a modulação do piso, as passarelas que conectam os dois lados do prédio representam uma ruptura nessa regularidade. Pode-se imaginar um cubo torcido, como uma espinha dorsal, criando vazios ireegulares a partir de recortes nas passarelas. Esse efeito é reforçado pela paginação de madeira tangenciada por rasgos de luz, tanto nos forros quanto nos pisos das passagens.
O percurso de acesso de pedestres foi resolvido desde a entrada frontal do lote até o átrio central, no pavimento térreo. A solução foi estender uma marquise negra em direção à frente do lote, um prolongamento da estrutura de concreto do estúdio. Esta proposta propicia uma cobertura adequada ao acesso do pedestre ao longo do caminho. Esse gesto é simbólico: o estúdio estende um braço em direção à cidade e, assim, convida os visitantes a acessar o edifício.
Os pavimentos de escritórios (1º e 2º) possuem as características de flexibilidade requeridas pelo programa. Para tanto, foi criada uma coluna de áreas comuns – banheiros, DML e copa – voltada para o átrio central, liberando o vão principal para conter apenas áreas de trabalho. Nelas, o vão livre tornou-se possível a partir do uso da estrutura metálica, que vence um vão transversal de 10,8 metros e também do emprego de piso elevado, tornando possíveis rápidas mudanças de layout. O uso de shafts exclusivos para instalações lógicas e elétricas foi fundamental, uma vez que se pode facilmente recabear o edifício inteiro conforme a necessidade.
Outra vantagem da forma obtida nos escritórios é a grande abundância de luz natural aliada à ventilação cruzada, dispensando em grande parte das vezes o uso de recursos artificiais de iluminação e ventilação. Fechando a composição dos pavimentos de escritórios, há as varandas, generosos espaços de convivência para os escritórios, conectados à copa e às passarelas do átrio central. Essa estrutura auxiliar, formada por um balanço de 1,8m da estrutura metálica, conecta o prédio longitudinalmente ao longo da fachada leste, protegida por chapas metálicas perfuradas.
Fabrika Filmes
SIA trecho 17, rua 40, lotes 125/145
Brasília-DF
Gabriel Nogueira
Guilherme Araujo
Pedro Grilo
Projeto - 2008/09
Construção - 2009/2011
Terreno - 1600m²
Construção - 1700m²
Joana França
Aníbal Fontoura
Eng. orçamentista - Paulo Resende
Projeto concreto - ProEst
Projeto aço - Medabil
Projeto instalações - Projet
Projeto acústico - Luís Cysne
Luminotécnico - TC iluminação / Dessine / CoDA
Paisagismo - Quinta
Consultoria - Alberto Uno
Compatibilização - CoDA Arquitetos
Almira Portella
Brunno de Sá
Cristiana Scorza
Daniel Brito
Thiago Turchi