Meia-três-meia
Localizada numa zona nobre de Brasília, a casa 636 se ergue em um lote inclinado, cuja rua frontal apresenta um desnível de 1,4m, a altura aproximada de meio pavimento. A partir desta propriedade natural do sítio surgiu a ideia de uma composição escalonada para projeto, criando espaços em quarto níveis distintos, separados por meios lances de escada.
O resultado da composição é uma volumetria sólida de caixas brancas, intercaladas por um vazio central, uma escadaria envidraçada que insinua a movimentação de pessoas em seu interior. Os pavimentos são dispostos em dois volumes de 6m de largura cada e articulados por um vazio central de 3m. A sequência modular 6–3–6m batiza a casa.
A centralidade das escadas assume um papel preponderante na casa, orientando a circulação entre os espaços. Assim, cada patamar corresponde a um novo núcleo funcional, um esquema rompido apenas pela presença insólita da cozinha no centro da casa – único ambiente com pé direito duplo com acesso facilitado aos demais cômodos e à área externa.
Os demais se organizam conforme a proximidade ao térreo, em uma gradação dos espaços mais sociais para os mais íntimos. Assim, o térreo inferior reúne os serviços como lavanderia, despensa, depósito e garagem; o térreo superior, social, abriga cozinha, sala e varanda, além de um pequeno escritório e o quarto de hóspedes. O terceiro nível é íntimo e abarca os 3 quartos e uma sala de TV. Por último, encontra-se um amplo terraço com vista para o Lago Paranoá.
Mesmo com quatro níveis, o projeto se mostra compacto e eficiente em termos de áreas por espaços ocupados, um claro contraste com as mansões volumosas da vizinhança.
Desse modo, a casa 636 apresenta-se então como uma alternativa viável para a moradia brasiliense contemporânea, mantendo um diálogo com a herança modernista de Brasília e coerente com o lote e bairro na qual está implantada.